Notícias 14 de novembro de 2025

Educação para trânsito por paixão: o Detran-MS e o trio de servidoras que conquistam prêmios e o coração das crianças

Dedicação, criatividade e, principalmente, amor pela causa são os pilares que sustentam o trabalho de três servidoras públicas da Diretoria de Educação de Trânsito do Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul). Danielle Bertolazo, Lidiana de Freitas e Regina Abreu, que se intitulam carinhosamente como Grupo Arte em Trânsito, são as responsáveis pela idealização, produção e execução de ações educativas que têm se tornado referência e conquistado reconhecimento nacional.

Longe do estereótipo burocrático, as servidoras transformaram a educação para o trânsito em um ofício artesanal e profundamente pedagógico, com foco na realidade e no protagonismo de cada público.

O diferencial do trabalho do grupo reside na combinação de muito estudo com uma produção lúdica e manual. Regina e Lidiana contam que a dedicação é tamanha que possuem ateliês improvisados em casa, além do espaço no Detran. A busca por materiais é uma aventura à parte. "Quando fizemos a caixa (Projeto de Teatro Lambe-lambe), precisávamos de muitas unidades para fazer protótipos. Brigávamos por caixas no mercado, pedíamos e catávamos nas ruas. Sempre que via uma caixa, levava pra casa", conta Regina Abreu, lembrando de quando o marido chegou em casa e perguntou se eles estavam de mudança, dada a quantidade de caixas de papelão acumuladas.

Lidiana e maquete de passagem de fauna feita com erva de tereré

Lidiana de Freitas compartilha as "loucuras" pelo reaproveitamento: "Uma vez tentei colocar uma caixa de geladeira no capô do meu carro, que era um Uno! Já fizemos loucuras por caixas e materiais recicláveis."

Os materiais reaproveitados são a alma de muitos projetos, como a maquete de Passagem de Fauna, criada por Lidiana e Danielle. Utilizando criatividade e um patrimônio cultural do estado, a grama da maquete foi feita de erva de tereré, e os animais (sucuri, anta, onça, entre outros) foram moldados em biscuit. "A Dani até queimou o liquidificador da casa dela, batendo a espuma que foi usada nas folhas da árvore," revela Regina, destacando o comprometimento pessoal de cada uma.

Base de Estudos: Do Visão Zero à Pedagogia Humanizada

Para Danielle Bertolazo, que traz a formação em Pedagogia e o interesse em Teatro, o estudo é o motor da transformação, que levou o grupo a abandonar antigas práticas, como a simples distribuição de panfletos ou palestras genéricas. "Eu queria uma coisa mais humanizada, voltada realmente para o foco [um público específico]," explica Danielle. Ela conta que o trabalho educativo da equipe recebe muita influência do psicólogo e pesquisador Reinier Rozestraten, autor do livro Psicologia do Trânsito, assim como do educador Paulo Freire, e o conceito de Pedagogia da Cidade, além da filosofia Visão Zero, como inspirações para a mudança de abordagem.

O ponto de virada foi a percepção de que algumas campanhas colocam o foco nas crianças e os adolescentes como motoristas do futuro, ou como fiscalizadores dos pais. Nas campanhas do Detran-MS, as crianças e adolescentes são colocadas como integrantes do trânsito, como elas realmente são – como pedestres, como passageiros. “As ações educativas que o Detran-MS desenvolve hoje, tratam a criança e ao adolescente como cidadãos pertencentes a contexto trânsito. Mesmo que cada ação tenha um direcionamento específico para um determinador público, esse público está inserido no trânsito. Faz parte da cidade”, explica Danielle.

Danielle na interação com crianças durante as ações do Maio Amarelo de 2025

A pesquisa constante permite que as servidoras elaborem intervenções que abordam a realidade dos destinatários, como as ações sobre álcool e drogas para adolescentes ou as campanhas de reflexão com alunos do EJA (Educação de Jovens e Adultos). O objetivo é claro: garantir que o cidadão não seja apenas um receptor da campanha, mas o seu protagonista, internalizando o aprendizado.

Projetos Premiados: Inovação na Tradição

A busca por ações lúdicas, com recursos limitados, levou o Grupo Arte em Trânsito a inovar usando diferentes formas de arte, como o teatro lambe-lambe, por exemplo – sempre as adaptando para a educação viária. "Nós não temos muitos recursos para investir, então procuramos trabalhar com materiais recicláveis ou de baixo custo," explica Danielle.

Regina explica que apesar de ter total apoio da diretoria de educação e da própria Gerência de Projetos e Campanhas, como órgão público, o Detran-MS tem dificuldade de comprar materiais específicos para ações educativas.

Dessa filosofia surgiram projetos notáveis:

  • Detranzinho Play: O programa Detranzinho Play foi criado para levar educação de trânsito para escolas e alunos durante o momento de afastamento sociais, caudado pela Pandemia. São 35 vídeos curtos com mais de cem mil visualizações. Em 2021, o projeto recebeu o Prêmio Denatran, de Educação para o Trânsito. O projeto também conquistou o segundo lugar no XVII Prêmio Sul-Mato-Grossense de Gestão Pública, na categoria Educação. (Clique aqui)
  • Teatro Lambe-Lambe: Uma inovação na educação de trânsito que utilizou a arte teatral em miniatura, uma abordagem que, segundo Danielle, que foi premiado mais uma vez pela Senatran em 2022, ficando em 2° com o projeto de Educação para o Trânsito “Trânsito na Caixa”
  • Passagem de fauna: é uma maquete que apresenta soluções como passagens de fauna, sinalização para redução de velocidade e cercamento em locais necessários, com intuito de redução dos sinistros de trânsito para preservação da fauna.
  • História Cantada (Lenga-Lenga): Criada para atender o público da educação infantil, uma faixa etária sem campanhas específicas. A música, elaborada por Danielle durante o trajeto de casa, tem caráter repetitivo e cativante (Lenga-Lenga), ensinando o conceito de segurança com os "bichinhos". "As crianças ficam alucinadas, ficam apaixonadas," revela a servidora sobre a reação do público.
Regina em uma ação realizada com crianças da educação infantil

As servidoras hoje trabalham com a criação de uma maquete sensorial que simula um ambiente de trânsito (ruas, calçadas, semáforos, faixas de pedestre, ciclovias etc.), elaborada com materiais que possibilitam interação tátil e visual, com objetivo de mostrar situações reais do cotidiano, como travessias seguras e espaço seguro para o pedestre e ciclistas. Outro projeto é de teatro, com uma técnica japonesa de nome Kamishibai, que significa "teatro de papel" e é usada para contar histórias.

Orgulho da família

O alto nível de dedicação do trio, muitas vezes, esbarra na falta de recursos e tempo que extrapola o expediente do Detran. Para garantir a execução dos projetos no prazo, as servidoras assumem o custo de materiais. “Muita coisa a gente comprou com o nosso dinheiro. Ficamos em casa confeccionando, fora do expediente, para dar tempo de atender.

Ao levar o trabalho para casa, a família reclama atenção. Mas como conta Lidiane, “no final eles ficam orgulhosos do nosso trabalho. Ryan (filho de Lidiane) também acaba ajudando a confeccionar o material e a Malu (filha da Dani) dá várias sugestões.

Para as servidoras do Grupo Arte em Trânsito, o trabalho vai além do cumprimento de uma função: é uma missão pessoal de salvar vidas, usando a criatividade, a paixão e o conhecimento como principais ferramentas.

Como costuma dizer a Regina, para definir o seu trabalho em conjunto com suas colegas: “Somos como flores que nascem no asfalto”.

Servidoras com o cenário do História Cantada, ação com música criada para crianças da educação infantil

 

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Texto e fotos: Emmanuelly Castro, Comunicação Detran-MS

 


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