Depois dos 40, José recebe primeira habilitação graças ao Brasil Alfabetizado
Pouco mais de dez anos após dar entrada na emissão da CNH (Carteira Nacional de Habilitação), José da Silva Costa, 44 anos, comemorou nesta quinta-feira (12) a conquista. Ao contrário do que muitos podem pensar, a entrega deste documento foi considerada uma grande vitória para o motorista que, com uma história de vida repleta de altos e baixos, encontrou várias dificuldades principalmente pela condição de não alfabetizado.
José saiu de casa ainda menino para viver com a família do padrinho na região de Bodoquena. Isso porque a família, de oito irmãos, vinha sofrendo com dificuldades financeiras. Aos treze anos de idade, precisou pegar pesado para sobreviver. Trabalhava dia e noite na pequena roça da fazenda onde vivia e, sem tempo para o estudo, acabou abandonando a escola.
Em 2004, deu início ao processo para tirar habilitação. Acabou reprovando no primeiro teste, psicológico e, de acordo com as regras do CTB (Código de Trânsito Brasileiro), precisou aguardar seis meses para dar continuidade ao processo. As dificuldades surgiram porque José não sabia ler ou escrever. Dessa forma, o Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul), o encaminhou ao programa Brasil Alfabetizado, que procura, em parceria com a Secretaria Estadual de Educação, o resgate das pessoas que não tiveram a oportunidade de frequentar a escola e precisam obter a habilitação.
Em entrevista à Dicoe (Divisão de Comunicação e Estatísticas) do Detran, o motorista se emocionou ao relembrar os tempos difíceis pelos quais passou ainda na infância. “Às vezes não tinha comida pra todo mundo em casa e já aconteceu de eu ter que comer a mesma comida que seria dada aos porcos na fazenda. Passei muitas dificuldades sim, mas nunca me envolvi com coisa errada”, diz orgulhoso.
Já na vida adulta, José mudou-se para a Capital onde conheceu Cícera, sua esposa. Ele chegou a trabalhar como pedreiro, coletor de lixo, varredor de rua e hoje possui seu próprio negócio. É dono de uma loja de Açaí e possui sete funcionários. Mesmo sem estudo, José gerencia seu comércio e se diz abençoado com a família que tem, esposa e duas filhas, uma de 13 anos e outra com poucos dias de nascida.
A carteira de habilitação, José recebeu na última semana e fez questão de pegá-la diretamente das mãos da professora que foi uma das maiores incentivadoras dele no projeto Brasil Alfabetizado, Inês Pereira Esteves. Também acompanharam a entrega simbólica, as professoras Andrea Moringo, Regina Silva de Abreu e Zeneide Veras Vieira, da Secretaria de Estado de Educação.
Entre lágrimas e sorrisos, José fez desse encontro, um acontecimento e uma grande comemoração para ele. “Para outras pessoas pode não ser nada, mas para mim é muito importante. Eu estava entrando em depressão por não conseguir passar nos testes, mas não desisti”, contou José.
A professora Andréa lembra que o pedido de revisão que ele fez após a última reprovação no teste teórico foi fundamental para que o motorista tirasse as dúvidas sobre onde teria errado. “Na época ele estava tão triste que não queria de jeito nenhum pedir a revisão, mas é direito dele e eu insisti nisso, até que ele entendeu que era necessário. No fim, foi fundamental para que tivesse sucesso na tentativa seguinte”, informou.
José é um grande exemplo para as pessoas que possuem a mesma dificuldade. Ele se sentia chateado, triste, mas não desistia. Foram anos em busca de um objetivo que, agora é comemorado por toda a família.
A professora Andréa diz que se sente muito feliz e honrada por fazer parte dessa história de sucesso. “Considero o programa indispensável para o resgate da cidadania das pessoas e para promover a inclusão social, já que se sentem marginalizados pela sociedade por não saberem ler ou escrever. Há um processo de construção da autoestima e de socialização com histórias de vida semelhantes e objetivos em comum, que é conquistar a tão sonhada habilitação e com ela, a dignidade”, ponderou a professora Andréa.
Nova Turma
A nova turma do programa Brasil Alfabetizado terá início nesta segunda-feira (30) com aulas a partir das 17h30, de segunda a sexta-feira, no colégio Estadual Hércules Maymone. Até o momento, 16 pessoas estão matriculadas no curso, que ainda tem vagas abertas.
